TEXTO DO LIVRO CHUVA Para lavar a alma

Parecia que a Terra iria encostar-se ao céu, que ele voltara a flutuar, com aquele choro ao fundo. Um menino lindo! Ele foi para fora e a sensação era de que o choro dele chegara até os céus e o mundo inteiro ainda podia ouvir a anunciação de que o filho de Nicanor nascera e agora as lágrimas seriam apagadas do mundo, pois havia motivos para se alegrar. Seria a união dos anjos com os homens, sem vaidade, somente alegria e paz. Flutuar, subir até a imensidão do espaço e em seus pensamentos ele festejava com os anjos. “Nunca nada tão perfeito foi feito comparado à vida do homem”, confessou.
Os dois deitaram-se na areia e regressaram com seus pensamentos em suas vidas, sem falar, somente viajando com a mente. Estava bom aquele momento, a ponto de se esquecerem da hora. A noite chegou sem que percebessem. Algo chamou a atenção do jornalista: um choro pôde ser ouvido por Emanuel. Seu amigo chorava e soluçava, apertando a areia com as mãos em um desespero que parecia dor.
-Está tudo bem? – Perguntou Emanuel.
-Você pode imaginar o desespero de alguém tentando salvar sua vida e a única coisa que pode ver são corpos boiando em uma imensidão de água? E que até onde sua visão pode alcançar não se vê terra seca?
Era o fim do momento tranquilo e descontraído que acontecera naquela tarde, pois se via a raiva com que Nicanor falava aquilo, enxugando as lágrimas dos olhos sem olhar para o rosto de Emanuel.

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