Apenas mais um Severino.
Quem me dera soubesse por onde peregrinar. De tal modo refletia
o jovem Severino que humilhado observava de um monte mais uma cidade que abandonava,
não desejando levar memória qualquer dali. Um imaturo de cor parda e olhos
negros, agora já com trinta anos, mas perambulante desde os catorze, quando escapou
para não ser igualmente espancado pelo pai bêbado. A cidade que deixava
carregando tão-somente sua velha bolsa, não discerniu um jovem talento que riscava
e pintava como ninguém. Nenhum fulano olhou para o mancebo que agora arriscava juntar
seus cacos novamente, fragmentado em mios pedaços, solitário sem ciência em ler
ou escrever. Hoje parece depois do tempo, porquanto olhando para o despenhadeiro
abaixo de seus pés, decide saltar em uma alongada queda, creio que mesmo contendo
alguns longos segundos para arrepender-se, isso não tenha acontecido. Sem jamais
voltar a abraçar sua mãe, seus irmãos, além é claro, de possivelmente ser atirado
em alguma cova sem nome. Não sabemos quem errou, nem ainda temos ocasião para
pensar nisso. Por fim significa tão-somente mais um Severino, que arriscou
mentir para si mesmo, a fim de esperar que o mundo estivesse pronto para
abraçar sua habilidade quando deliberou retirar-se de casa. Morreu sem saber
que sua mãe não deixou nem mesmo um dia de pensar no mancebo que não voltará,
mas como aventado, em vida, foi somente mais um Severino.
Anderson Caum
Comentários
Postar um comentário