Uma noite de Lua alta e mansa

Em meu segundo livro intitulado como “Vaga-lumes – onde nascem as lendas”, narro contos que ditam a vida da protagonista do livro, sendo o ator principal, sendo batizada simplesmente como Catarina. Sua biografia começa a ser contada com detalhes que se assemelham aos contos inventados ainda quando criança pela mesma, além de outros ditos por alguns amigos, em uma noite triste onde acabou por perder toda sua família em uma tragédia, iniciando assim seu acaso e a saga de sua vida.
Diria que ainda não compreendo onde nascem as lendas, com aqueles contos fantásticos passando por gerações, fazendo com que muitos vivam experiências antes somente conhecidas pelos livros e seus autores. Talvez seja diferente e, os contos nascem de verdades inacreditáveis de tal forma que possam ser contadas como simples contos. Não! Devem ser contos mesmo. Bem, Sebastião não pensa assim.
Sebastião faz o sinal da cruz sempre que passa pelo casebre abandonado entre árvores secas pela falta de chuva. Perguntado o motivo, explica com o corpo horripilado pela apavorante história que conta, olhando para os lados e às vezes cochichando como se alguma assombração pudesse escutar atormentando sua família por isso. Começou descrevendo que a história era longa, convidando os curiosos turistas a sentarem-se ali mesmo no chão arenoso daqueles confins do sertão, em uma noite que começava a surgir com uma Lua linda, dando alguma luminosidade para escuridão que se avizinhava.
Não gostaria de dizer que ele tinha bigode em uma barba por fazer, além de mastigar um capim sempre no canto da boca, pois muitos contam causos com esse estereótipo, mas era assim.
Segundo sua história, há uns vinte anos moraram naquele casebre uma família que sofria muito na mão de um pai e marido cruel chamado Bento.
Bento ficou viúvo, tendo em sua responsabilidade oito filhos, sendo cinco meninas e dois meninos. Serafim o filho mais velho, deveria ter dezesseis anos na época cuidava em manter o alforje de caçador do pai, sempre limpo, brilhando na verdade. Com certeza de seus irmãos que era Ana com quinze anos e cozinheira da família, Sebastiana treze cuidadora dos consanguíneos mais novos, talvez fosse o preferido do gerador. Os outros filhos tinham menos de dez anos e como pintinhos o seguiam na vida dura em que levavam.
Sem força para contrariar o pai, ou ainda brincarem como outras crianças levavam uma vida miserável. Mas serafim tinha outro planejamento para sua vida, isso incluía uma vida muito longe dali. Assim em noite clarinha, fugiu de casa não estando entre os filhos de Bento naquela caçada, algo que enraiveceu muito o chefe da família que deixando os outros em casa, saiu à captura do mais velho.
Após dois dias, seguindo pistas e falando com desconhecidos, encontra seu filho próximo de embarcar em um caminhão pau de arara que os levaria a uma estação de trem na cidade vizinha. Mas não deu tempo de Serafim embarcar, sendo alvejado por um pai furioso que o trouxe amarrado em seu cavalo, tendo que caminhar quilômetros em um sol escaldante de volta para sua casa.
Após o episódio, o menino adoeceu vindo a falecer após uma semana em intensa agonia provocada pelas dores em todo corpo surrado e escaldado de sol, tendo ainda coágulos por toda parte.
O pai se mostrava firme, não permitindo que os irmãos chorassem sua morte, enterrando o cadáver em uma cova rasa a alguns metros da casa onde viviam. Ana agora estava furiosa e achou por bem, combinar com sua irmã menor, a saber, Sebastiana como mataria seu progenitor. Bento dormia quando teve em seu coração uma faca cravada, morrendo ali mesmo após ainda conseguir proferir alguns chamamentos a suas filias.
Após esse dia, passaram a ser assombrados pela alma de Bento que fez com que as duas meninas se perdessem na vida, tornando-se prostitutas. Dos outros irmãos, apenas dois não matou de medo, esses mortos por Serafim que ressuscitara, saindo de sua cova rasa como lobisomem.
Toda vizinhança hoje tem medo daquele lugar, que dizem ser amaldiçoado.
Quando Perguntado a Sebastião, o contador da história se ainda o lobisomem ou a alma de Bento ronda aquele lugar, ele disse:

- Há uns dois anos, sumiu um bebê de seu berço. Toda vizinhança saiu para procurar a criança que nunca fora achada, mas dentro daquele casebre amaldiçoado, foi achado vômito com a mão de um bebê misturado a outros restos. Se quiserem andar por aqui durante a noite, fique a vontade, mas a noite cai e preciso entrar para colocar trancas na porta, afinal, tem um lobisomem nessas redondezas.

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