É de-cumê?
Perguntava o menino se é de-cumê. Descalço aparentando dez
anos, cor parda e desorientado. Pedia esmolas às pessoas que passavam
sem ao mesmo olhar, alguns assustados, outros raivosos. Mas uma aproximação para
perguntar de onde era ou ainda se estava perdido, o menino começava a tagarelar
sem poder parar de falar. Narrava que era de um lugar muito pobre no sertão
onde da cacimba todos nos arrabaldes arrebatavam sua água com cabaça. Todavia a
poça havia secado, então careceram sair daquele lugarejo.
Miúdo argucioso que parecia esclarecido quando falava do
avô, dando a dica de um caçador nato, onde vestia seu alforje, quando saia na
matutina para trazer comida. Comiam de tudo, sem reclamar, assim quando tinha
fome perguntava se é de-cumê.
Garoto semelhava clarividente quanto expressava com olhos
fitados aos seus, sem desviar para os lados, amargurando os ditos-cujos que ouviam
suas palavras proferindo:
- Um dia, até os branquinhos irão morar no sertão, pois
ninguém mais vai querer orar por alguma coisa de-cumê.
Anderson Caum
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